terça-feira, 5 de julho de 2016

"Abandonou completamente qualquer técnica policial", diz especialista sobre soldado morto

Luiz Carlos Gomes da Silva Filho, de 29 anos, foi baleado na cabeça após abordagem na zona sul da Capital

04/07/2016 - 20h40min | Atualizada em 05/07/2016 - 08h25min
"Abandonou completamente qualquer técnica policial", diz especialista sobre soldado morto André Ávila/Agencia RBS
Foto: André Ávila / Agencia RBS
Um vídeo que está circulando nas redes sociais mostra o momento em que o policial militar Luiz Carlos Gomes da Silva Filho, de 29 anos, aborda dois suspeitos na Rua Florinha, bairro Cavalhada, em Porto Alegre, na tarde desta segunda-feira. Em determinado momento, após ser baleado na perna e entrar em luta corporal com o PM, um dos suspeitos saca uma arma de fogo e mata o policial com tiros na cabeça. A imagem gera comoção ao confrontar a coragem do soldado diante da frieza de um dos homens, autor dos disparos. 
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Para tentar entender o que aconteceu nos minutos que antecederam à morte do soldado, ZH ouviu o coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma) e associado pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Eduardo Pazinato. Ele aponta falhas que podem ter contribuído para que a abordagem terminasse de forma trágica.
— É muito cômodo analisar as imagens de um ângulo privilegiado sentado em frente ao computador sem a pressão pela qual estava submetido o policial no momento da intervenção. Mas eu pude perceber que o PM abandonou completamente qualquer técnica policial, desde as mais simples — disse o especialista, que cita pelo menos três fatores que não foram observados ou analisados da forma correta.
A primeira falha apontada por Pazinato é a não observância da supremacia de forças, que prevê número maior de policiais em relação aos suspeitos.
— É um dos princípios básicos, que visa a evitar uma reação inesperada. Havia, além do rapaz que atirou, outra pessoa em uma área de sombra. O policial, justamente por estar sozinho, não teve uma cobertura ou auxílio de equipes de apoio.

Foto: Brigada Militar / Divulgação
Silva Filho também não conseguiu realizar as revistas pessoal e veicular, que poderiam ter salvo a sua vida. 
— As revistas são realizadas justamente para retirar armas ou instrumentos cortante dos suspeitos, que possam ser utilizados em uma possível reação. O policial que executa esse procedimento deve manter a arma no coldre e ter apoio de um colega com uma arma em punho.
O especialista em segurança percebeu também que o policial não prestou atenção ao cenário. Com uma análise situacional, conseguiria prever pontos de fuga dos suspeitos e, assim, posicionar seu veículo de forma a evitá-la. Também permitiu que os suspeitos circulassem em volta do carro.
— Não havia nenhuma contenção, obstáculo, impedindo a evasão do veículo. Houve empurrão do policial e revide do suspeito. O soldado também renegou, em diversos momentos, a existência de outra pessoa, que poderia, inclusive, ter pego a arma no carro. Com certeza não foi uma abordagem normal. Parece que ele tinha conhecimento prévio para ter ignorado procedimentos básicos.
Pazinato disse ainda que "a morte do brigadiano, infelizmente, é mais um sinal inequívoco da necessidade de uma política de controle, prevenção e, no limite, redução das violências letais no país. Deve-se apurar com rigor as circunstâncias do homicídio e seus responsáveis devem ser julgados e responsabilizados com o rigor da lei".
Em tom de desabafo, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas Moreira, comentou por meio de nota a postura adotada pelo PM e lamentou a sua morte. Segundo a BM, a arma utilizada pelos suspeitos era uma Glock alterada para funcionar como uma espécie de minimetralhadora. 
Luiz Carlos era integrante do Serviço de Inteligência (PM2) da BM, e estava desde 2009 na corporação. Pelas redes sociais, a Brigada Militar divulgou uma nota de pesar pela morte do soldado:

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