segunda-feira, 1 de junho de 2015

AFINAL, QUAL A VERDADE? Chimarrão sob suspeita: pesquisa aponta relação da erva mate com câncer

Estudo da OMS aponta que a combinação de alta temperatura da água com o herbicida usado no cultivo da erva-mate podem ser agentes cancerígenos

Chimarrão sob suspeita: pesquisa aponta relação da erva mate com câncer Luiz Armando Vaz/Agencia RBS
Roberson não pretende deixar o hábito de lado mas tem cuidado com a temperatura da águaFoto: Luiz Armando Vaz / Agencia RBS
Tradição centenária dos gaúchos, o chimarrão é apontado como provável agente cancerígeno por um estudo da Agência Internacional para Pesquisa Sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês) da Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa acende um alerta para o hábito e abre a discussão sobre a necessidade ou não de se moderar o consumo.

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As opiniões sobre o material são divergentes. Ao analisar o estudo, o oncologista do Instituto do Câncer do Sistema de Saúde Mãe de Deus, Stephen Stefani, aponta que há evidências científicas nítidas de que a associação da alta temperatura da água com herbicidas da erva-mate aumentam os riscos de câncer no esôfago, no estômago e na boca. O herbicida apontado no estudo é o glifosato, utilizado no cultivo da erva-mate para matar a vegetação que cresce ao redor da planta. 

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Sem abrir mão

O oncologista alerta que há uma quantidade regulamentada pelo Ministério da Saúde de herbicida para cada produto. Porém, admite que é muito pouco provável que o consumidor tenha acesso a esta informação. Mesmo assim, acredita que vale o esforço de buscar uma marca de confiança e, principalmente, não tomar a bebida quente demais e evitar o excesso. 

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– Se aquele consumidor toma chimarrão a uma temperatura que só ele consegue beber, é porque está muito quente. Neste caso, é prudente que ele mude seus hábitos. O mesmo vale para aqueles que tomam chimarrão várias vezes ao dia – aconselha.

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Mesmo que seja pertinente a recomendação de se evitar excessos, o estudo não diz que o chimarrão deve ser evitado, diferentemente do cigarro, por exemplo, em que há uma recomendação clara da OMS para não ser consumido.   

– O gaúcho não precisa ficar com medo, não é uma evidência científica forte para se abrir mão do hábito – ameniza Stephen.

Para a oncologista e coordenadora do Centro de Prevenção de Câncer da Santa Casa de Porto Alegre, Alice de Medeiros Zelmanowicz, o estudo da OMS não avança em relação às classificações que a organização já havia feito em 1991, quando apontou que a erva-mate poderia ter ligações com o câncer de boca. Alice alerta que as evidências apontadas são frágeis e que elas não justificam mudanças de hábito: 

– Não existe evidências científicas suficientes, o que causa câncer de boca, por exemplo, é cigarro e álcool.

 
Embora indique cuidados, estudo não aponta a necessidade de deixar o hábito
Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS

Herbicida facilita o cultivo da erva-mate

Em meio à carência de mão de obra no campo, o presidente da Associação dos Produtores de Erva-mate do Alto Uruguai (Aspemate), Ilário Poleto, reconhece que o uso do glifosato facilita o trabalho na lavoura, substituindo a roçada. Porém, afirma que já há produtores que estão substituindo a prática com o uso de roçadeiras e trator.

– No passado já foi usado bem mais, mas estamos diminuindo o seu uso – afirma. 

O glifosato é utilizado durante o processo de cultivo de erva-mate para matar vegetais que crescem ao redor da planta. O herbicida faz o mesmo trabalho que a capina faria e também funciona para o controle de pragas. Trata-se também de uma forma de fazer render a área produtiva. 

A Emater-RS confirma que a prática é comum nas lavouras de erva-mate do Rio Grande do Sul e em outras culturas também. Ressalta, porém, que não existe uma recomendação técnica de utilização do glifosato. A entidade recomenda a utilização de práticas que não tenham impacto ambiental, como a roçada mecânica. 

Para o consumidor, é o preço que assusta

Em uma das tradicionais lojas de erva-mate do Mercado Público da Capital, foi notada uma queda nas vendas nos últimos tempos. Porém, segundo o sócio-gerente do estabelecimento, Roberson Groff, 43 anos, mais do que qualquer evidência de perigo à saúde, é o preço que está assustando o consumidor. Roberson lembra que, nos últimos dois anos, o preço da erva-mate subiu cerca de 150% e conteve os hábitos de muitos clientes. 

– Vendia o kg a R$ 6, agora está a pelo menos R$ 12, R$ 13 – explica.

Ele próprio, que tem o hábito do chimarrão desde criança, garante que não deixaria de tomar mesmo se fosse provada alguma ligação direta com o câncer. Apaixonado pela bebida, garante que tem cuidados com a temperatura do mate. O segredo, conta ele, é fazer com o bebida fique entre 70° e 75° C, ou seja, logo antes de começar a ferver: 

– Tomo os dias de manhã cedo, mas tenho esse cuidado. 

O vendedor Carlos Eduardo Silveira de Lima, 39 anos, é daqueles que toma chimarrão o dia inteiro. Para ele, a bebida é uma companhia tanto em casa quanto no trabalho. 

– Aqui na loja, o chimarrão fica o dia inteiro no balcão, tomamos a toda hora. É um hábito que tenho há mais de 20 anos – reconhece 

 
Para Carlos, chimarrão é companheiro o dia todo
Foto: Luiz Vaz/Agência RBS

 
Que tal a erva orgânica?

Desde que se tenha confiança na origem da erva, sim. Vale lembrar que todo alimento e produto de consumo sem herbicidas é melhor para a saúde. Porém, precisa ser bem conservado e consumido no seu prazo de validade. Em supermercados, é possível encontrar o quilo da erva-mate orgânica a R$ 12. No Mercado Público, um quilo custa R$ 16. 

Números de casos no RS

– O Rio Grande do Sul lidera, proporcionalmente, os casos de câncer de esôfago no Brasil. São 18,90 casos para cada 100 mil homens e 6,82 casos para cada 100 mil mulheres.
– No câncer da cavidade oral, ocupa a quinta posição no Brasil entre os homens (15,49 casos para cada 100 mil) e a 11ª posição entre as mulheres (3,40 casos para cada 100 mil).  
– Já quanto ao câncer de estômago, fica na oitava posição no Brasil entre os homens (14,30 casos para cada 100 mil) e na quinta posição entre as mulheres (8,43 casos para cada 100 mil). 

Fonte: Instituto Nacional do Câncer (Inca) 

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DIÁRIO GAÚCHO

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