Morre Danilo Ucha, colunista do Jornal do Comércio
Danilo Ucha morreu ao 72 anos
JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
Faleceu nesta quarta-feira (20) o jornalista e colunista do Jornal do Comércio Danilo Ucha, aos 72 anos. Ele morreu enquanto dormia em casa, informaram familiares. O velório está marcado para começar às 15h na Capela J do Cemitério São Miguel e Almas. O sepultamento será nesta quinta-feira (21), às 11h.
Ucha tinha mais de 50 anos de profissão e era um dos mais importantes jornalistas do Rio Grande do Sul. Começou a carreira no jornal A Plateia, de Santana do Livramento, cidade onde nasceu, e teve passagens pelo Diário de Notícias, Folha da Tarde, Veja, Zero Hora, TVE, Radio Farroupilha, Radio Guaíba, O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil, e ainda como correspondente em Porto Alegre para o Correio da Manhã (RJ).
Ele assinava a coluna Painel Econômico no JC há 14 anos, dirigia o Jornal da Noite (com veiculação mensal), que completaria 30 anos em agosto. Além disso, mantinha o blog cordeiro&vinho. A gastronomia regional era um dos seus temas prediletos. Ucha conhecia muito a agropecuária e se dedicava à ovinocultura.
Autor de vários livros-reportagem, atuou nos principais veículos de comunicação do País. Também foi um dos dirigentes da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (Coojornal) e cobriu a guerra das Malvinas, nos anos de 1980.
Até esta terça-feira (19), o colunista se empenhava em coberturas, como a da posse do novo presidente do BRDE, e notas exclusivas, que tinham sempre sua marca pessoal e provocativa.
A direção e colegas do Jornal do Comércio lamentam a perda do colega e amigo, que se dedicou à reportagem do jornal e à coluna Painel Econômico com a mesma vivacidade de quanto começou na profissão.
Para Luiz Borges, diretor comercial do JC, a morte do colega "é uma perda irreparável". Para Borges, "Danilo Ucha era um grande jornalista, autor de uma das páginas mais lidas do Jornal do Comércio e respeitado por toda a classe empresarial".
"Uma notícia muito, muito triste. Faleceu nesta madrugada o meu querido amigo Danilo Ucha. Eu que nunca tive problemas com as palavras, agora não as tenho. Começamos juntos no jornalismo", postou com emoção o também colunista do jornal Fernando Albrecht.
Ucha era diabético, hipertenso e já havia passado por cirurgia cardíaca. Ele deixa a mulher, Maria Jair Fontoura Mazei, com quem vivia desde 1964, cinco enteados, 11 netos e 8 bisnetos.
“Perdemos um grande jornalista”
Muito ligado à terra natal, Santana do Livramento, Ucha trazia de lá algumas amizades que manteve por toda a vida. Um de seus principais parceiros era o também jornalista Elmar Bones, editor do Jornal Já, que conheceu ainda no movimento estudantil santanense na década de 1960. “Ucha era, antes de tudo, um homem bom. Perdemos um grande jornalista”, lamenta Bones, a quem Ucha chamava pelo apelido de “Bicudo”.
O jornalista e amigo afirma também que ainda não conseguiu mensurar a perda. “Não caiu a ficha”, comenta Bones, ressaltando a surpresa com o falecimento já que Ucha continuava trabalhando normalmente até ontem. “Ele trabalhava o tempo inteiro”, relembra o amigo. Depois do colégio, ambos vieram juntos a Porto Alegre em 1964, após terem sido destituídos da diretoria da União Santanense de Estudantes Secundários pela ditadura militar. Na Capital, cursaram Jornalismo na então Faculdade de Filosofia da UFRGS, e trabalharam juntos na Folha da Tarde.
Entre as principais memórias, Bones ressalta a organização dos Jogos Internacionais da Primavera em Livramento nos anos 1960. Ideia de Ucha e executada pela entidade estudantil, o evento reuniu equipes de escolas de toda a fronteira, de cidades como Rivera, Tacuarembó e Alegrete. Os 50 anos do evento foram celebrados em 2013, segundo Bones, quando ambos foram a Livramento para a homenagem. “Ele era muito ligado ao Uruguai”, relembra o amigo. Ucha tinha, inclusive, dupla cidadania.
Além da fronteira, outra paixão de Ucha era a boemia. “Ele sempre foi muito ligado aos músicos, à vida noturna. Mesmo nos últimos anos, quando já não frequentava mais”, relembra Bones. Ucha manteve por muitos anos, mesmo repórter de economia, colunas de vida noturna e, por quase 30 anos, editava o Jornal da Noite.
Colegas, amigos e entidades lamentam morte do jornalista
A comoção à morte de Ucha é expressa por amigos, autoridades e representantes de setores que ele costumava ter como fontes. Muitos deles acabaram estabelecendo vínculos muito além da atividade profissional.
- "Perdemos uma pessoa muito querida por todos, não sei nem dizer quantos anos de amizade..." Zildo de Marchi, presidente da Uniagro e do Sindiatacadistas.
- "O Ucha foi um dos destaques da invasão que tivemos em Porto Alegre por jornalistas qualificados de Livramento, junto com o Bicudo (Elmar Bones), Kenny Braga, Jorge Escosteguy, Carlos Urbim e Carlos Alberto Kolecza. O jornal A Plateia revelou esse excelente talento para o Jornalismo". Carlos Bastos, secretário de Comunicação da Prefeitura de Porto Alegre
- "Um grande amigo, uma grande perda. Era um incentivador da ovinocultura e um cozinheiro de mão cheia, e juntou suas duas paixões na Confraria do Cordeiro". Luiz Fernando Nunes, coordenador da Confraria do Cordeiro.
- “É uma perda fundamental, que não terá reposição”, Paulo Afonso Pereira, presidente da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA). Ucha e Pereira tinham se encontrado na semana passada para almoçar na associação, onde Ucha exerceu o cargo de assessor por nove anos na década de 1980. Foi nessa época que eles se conheceram e desenvolveram a sua relação de amizade. "Mais que um grande profissional, era uma excelente pessoa, articulado, culto e com um bom papo".
Em nota, a Assembleia Legislativa, em nome dos deputados da 54ª Legislatura, manifestou pesar pelo falecimento de Ucha. Em 2014, o jornalista foi agraciado com a Medalha da 53ª Legislatura, e trabalhou como assessor de imprensa na Assembleia Legislativa.
Pelo Twitter, o governador do Rio Grande do Sul José Ivo Sartori comentou a perda do jornalista. "Ucha foi um símbolo do jornalismo sério, comprometido com causas gaúchas, especialmente a ovinocultura e o setor vitivinícola", escreveu.
Editora do JC: "No Dia do Amigo, perdi um dos grandes"
Paula Sória com o jornalista na Redação do Jornal do Coméricio
Arquivo Pessoal/JC
Arquivo Pessoal/JC
A jornalista e editora de Geral do Jornal do Comércio, Paula Sória, esteve muito próxima de Danilo Ucha nos últimos anos, tocando projetos editoriais que eram uma das grandes paixões do jornalista.
"A diferença de 38 anos entre nossas idades nunca foi uma barreira para nossa amizade. Conversávamos sobre tudo, absolutamente tudo. Muito da jornalista que sou hoje devo a Danilo Ucha", disse a jornalista. Ela lembra que, em viagens de carro por Porto Alegre e Região Metropolitana, Ucha contava as histórias de vida na profissão, de bebedeiras nos bares, das farras noturnas, do autoexílio em Portugal e de coberturas históricas, como a da Guerra das Malvinas, em 1982.
Paula recorda que o colega foi um dos primeiros repórteres a chegar na região do conflito, onde ficou mais de 80 dias, recolhendo informações e ditando as matérias por telefone para a sucursal do jornal. "Algumas de suas epopeias pelas noites brasileiras são impublicáveis. Inclusive, Ucha pensava em escrever um livro de crônicas sobre elas em terceira pessoa, assim como outro sobre a trajetória do polêmico jornal que desafiava a ditadura militar, o Coojornal, do qual foi um dos fundadores."
A editora do JC informa que o colunista preparava para agosto um jantar de comemoração de 30 anos do Jornal da Noite, que entre notícias sobre jornalismo e arte, trazia sempre à pauta o vinho, umas de suas paixões. "Outra coisa que não dispensava eram os pratos à base de carne de cordeiro. Não descansou sem que eu provasse seu espinhaço de ovelha com trigo, considerado lenda por muitos colegas da redação do Jornal do Comércio." Sobre as incursões gastronômicas, ela disse que há meses haviam acertado de almoçar no Pampulinha. "Ele queria que eu provasse o Bacalhau à Moda da Casa."
Plenos não faltavam, diz a amiga. "Mesmo que ele reclamasse do peso da idade." A jornalista participou com ele de três livros, o último uma biografia de Zildo de Marchi (Zildo De Marchi - barriga no balcão, olhos no mundo!), empresário do setor comercial gaúcho. "Sempre que fechávamos uma parceria para escrever um livro, ele só me contava a história que seria ou quem seria o biografado, quando já estivesse tudo certo. Adorava esse suspense."
Ucha também costumava escrever nas folhas de anotação da editora, durante as reuniões diárias de pauta no jornal. "Tenho guardado um pedaço de papel, escrito há cerca de quatro anos, no qual ele falava sobre sua lapide e já tinha escolhido a frase para defini-lo. "A epígrafe já tenho: 'A palavra do revolucionário morreu na boca fuzilada'." Emocionada, Paula encerra: "No Dia do Amigo, perdi um dos grandes".
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