Vira-latas conhecido como Negão segue todas as ambulâncias que chegam ao hospital na esperança de rever o seu dono
Dagmara Spautz
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Cão está sempre atento às ambulâncias que chegam, na esperança que seu dono esteja em uma delasFoto: Luiz Carlos Souza / Especial
Negão, um vira-latas de idade desconhecida, é o protagonista de uma história que até parece roteiro de cinema. Há oito meses ele mora no pátio do Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, à espera do dono, que morreu horas depois de ser internado. A lealdade do cãozinho comoveu os funcionários do hospital e os socorristas do Samu, que o adotaram. Já tentaram até levá-lo para casa, mas Negão retorna ao hospital.
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Tudo começou em meados de novembro do ano passado. O dono de Negão, que vivia na rua, teve uma infecção generalizada e precisou ser socorrido às pressas pelo Samu. O cão acompanhou todo o trajeto até o pronto socorro, correndo ao lado da ambulância.
Ele não chegou a ver o momento em que o companheiro deixou o hospital, já sem vida. E associou o barulho das sirenes à presença do amigo. Desde então, corre ansioso sempre que vê a ambulância chegar.
Negão acompanha toda a manobra dentro do pátio. Assiste de longe à retirada do paciente com a maca, e depois corre junto da ambulância até a saída para a rua. Quando percebe que o dono não está ali, volta cabisbaixo para o jardim.
— Já tínhamos visto casos de pacientes que estão muito mal, ou já em óbito, e o cachorro não sai de perto. Mas ter vindo até aqui, e permanecido, eu nunca vi igual. A não ser no cinema — diz o socorrista Renaldo Marquato, do Samu, lembrando o filme Sempre ao seu lado, estrelado por Richard Gere, que mostra a história real de um cão que esperou por seu dono, que partiu de trem e não retornou, até o fim da vida.
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A rotina e as correrias de Negão chamaram atenção dos funcionários do hospital. Descobriram a história dele, resolveram cuidar e lhe deram nome e sobrenome: Negão Cardoso.
A diretora do Ruth Cardoso, Jamille dos Santos, não gostou da ideia no início. Achou que os pacientes poderiam se incomodar, embora o animal fique no lado de fora do hospital.
Por duas vezes, tentaram entregar Negão para adoção. Mas ele fugiu e voltou para o hospital logo depois.
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O jeito, então, foi adaptar um espaço para que ele pudesse se acomodar, com direito a casa, edredom, ração e um ¿banheiro¿. Tudo para garantir o conforto dele, sem incomodar os pacientes. A Ong Viva Bicho, que tem parceria com a prefeitura, castrou Negão e fez parceria com uma pet shop para que ele tome banho toda semana. Limpinho, cheiroso e bem alimentado, ele também recebe petiscos do pessoal da ambulância.
Negão tem um olhar triste e distanteFoto: Luiz Carlos Souza / Especial
Negão não abana o rabo para qualquer um e tem o olhar distante, tristonho. Para o socorrista Marquato, o jeitinho um tanto vago tem explicação:
— Não acho que ele seja triste, ele tem esperança.
Maressa Morais, funcionária do hospital que alimenta o cão todos os dias, tem vontade de levá-lo, mas diz que isso seria um erro, porque a casa que ele escolheu é ali.
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