segunda-feira, 18 de julho de 2016

BRASIL TEM PARTIDOS DEMAIS: 77% DOS BRASILEIROS NÃO SABEM QUANTOS PARTIDOS EXISTEM DIZ IBOPE

Partidos demais

Quantos partidos existem hoje no Brasil? Se você não soube responder, não se preocupe, não está sozinho. Outros 158 milhões de brasileiros têm a mesma dúvida. Em pesquisa inédita do Ibope, 77% não quiseram nem arriscar dizer a quantidade de siglas partidárias existentes no País. Fizeram bem em silenciar: 23% chutaram um número, só 2% acertaram. A resposta é 35. Por ora.
José Roberto de Toledo/ Estadão

Os 2% que souberam responder corretamente à pergunta do Ibope se enquadram, provavelmente, em uma de três categorias: 1) é estudante ou professor de ciência política, 2) faz política profissionalmente ou orbita em torno dela; 3) é sortudo.


Não se deve culpar quem errou ou silenciou, pois a resposta certa varia. Em pouco tempo, será outra. Afinal, mais 62 siglas estão tentando se viabilizar na Justiça Eleitoral. Por ora.

São agremiações tão amplas quanto o “Partido Universal do Meio Ambiente”, tão genéricas quanto o “Participação” e o “Igualdade”, e tão includentes quanto o “Partido dos Servidores Públicos e da Iniciativa Privada do Brasil”. Mas há também os específicos e restritivos, como o “Partido de Organização Democrática dos Estudantes”, “Partido do Combate ao Desemprego” e, campeão dos campeões, o “Partido Nacional Corinthiano”.

Sim, são partidos demais: 84% dos brasileiros, segundo o Ibope, concordam que 35 siglas já é muito. O que dizer de 97 (na hipótese de os outros 62 conseguirem se viabilizar)? É sinal de que, com a provável exceção de fundar uma igreja, não existe melhor negócio do que fundar um partido no Brasil. É isento de impostos, garante exposição gratuita na TV e no rádio duas vezes por ano, permite negociar o tempo de propaganda eleitoral com outras siglas e ainda ganha uma fatia do Fundo Partidário.


Mas, na maioria dos casos, é bom apenas para quem comanda os partidos. É o que pensa a maioria dos brasileiros. Segundo a pesquisa, 80% acham que haver 35 siglas é mais negativo do que positivo para o País. Só 12% acreditam no oposto.

Poucos temas conseguem galvanizar uma maioria tão ampla da opinião pública. Portanto, parece já ter passado da hora de reduzir o número de partidos políticos no Brasil, certo? Nada menos do que 77% dos brasileiros concordam com essa afirmação. O problema é que entre os 18% contrários à proposta estão deputados e senadores em quantidade suficiente para barrá-la.

Assim, chegamos a um impasse sobre o funcionamento do sistema político brasileiro em um dos seus aspectos mais básicos. A imensa maioria da população acha que há partidos demais (84%), que isso é mais negativo do que positivo para o País (80%) e quer diminuir (77%) a quantidade atual (quanto menos facilitar a criação de outros 62). Porém, as pessoas que deveriam, em tese, representar essa maioria agem no sentido oposto.


Simplesmente porque não lhes convém mudar. Toda vez que se dedicam a alterar alguma coisa no sistema político, deputados e senadores facilitam a sua vida, não a dos eleitores. Um dos exemplos mais recentes é a janela de infidelidade partidária que está aberta até o próximo dia 19. Durante um mês, os parlamentares podem trocar e destrocar de partido sem medo. É uma espécie de despedida de solteiro onde vale tudo. Pelo menos 40 já participaram do troca-troca partidário. Por ora.

Como sair desse impasse? Revisão constitucional? Sabe-se como começa, mas não como termina. A constituinte é soberana para mudar tudo o que quiser da Constituição. E de pouco adiantaria se os eleitos forem os mesmos que já compõem o Congresso. Candidaturas avulsas? Os parlamentares jamais aprovariam.

Talvez a solução seja criar o 98.º partido – o Partido Aleatório –, cuja plataforma é abolir o sistema eleitoral-partidário para escolha do Congresso. Em vez disso, deputados e senadores seriam sorteados. Teríamos melhores chances do que hoje.

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