Especialistas dizem se é uma boa recorrer aos bancos para antecipar valores que seriam recebidos no final do ano
Leandro Rodrigues
Quem tem conta em banco já pode ter recebido uma proposta que parece tentadora: colocar no bolso imediatamente uma quantia em dinheiro que só entraria no final do ano. Em tempos de crise, com as contas batendo à porta, essa possibilidade promete fazer muita gente parar e pensar. São as antecipações de 13° salário e restituição de Imposto de Renda. Mas não se trata de camaradagem.
— O que as pessoas devem saber bem é que se trata de uma compra de dinheiro. O banco oferece a quantia e, depois, a pega de volta com juros e taxas — alerta o educador financeiro Jó Adriano da Cruz.
Leia mais
Preço do feijão e do arroz dispararam. Saiba se vale a pena substituir
Juros do cartão e do cheque especial batem recorde: é tempo de levar a sério as dicas para escapar deles
Leia mais
Preço do feijão e do arroz dispararam. Saiba se vale a pena substituir
Juros do cartão e do cheque especial batem recorde: é tempo de levar a sério as dicas para escapar deles
Para a instituição, é uma transação mais segura. As antecipações são oferecidas aos clientes, e a garantia de pagamento é o fato de que o 13º ou a restituição são depositados na conta. Também por isso, as taxas e os juros acabam sendo relativamente mais baixos. Mesmo assim, está longe de ser aconselhável de modo geral.
— Só vejo uma situação que pode fazer valer a pena essa operação: ajudar a quitar uma dívida que tenha juros mais altos, como a do cartão de crédito — diz Jó Adriano.
Reflita antes
Reflita antes
O oferecimento da antecipação ocorre por e-mail, por telefone ou na própria agência bancária. Sem refletir bem sobre o uso que vai dar ao dinheiro, o cliente pode aceitar a oferta. O educador financeiro Adriano Severo destaca que, no caso da restituição, pode haver problemas
no cadastro e a necessidade de retificações. Nesses casos, o valor a receber da Receita pode diminuir.
— O banco vai pegar de volta o valor que emprestou. E se o valor da restituição baixar ou não vir, a instituição vai tirar do que houver conta, talvez até do limite — alerta.
Boa relação com o banco é fundamental
Para garantir juros mais baixos e até descontos em taxas bancárias no caso de pedir antecipações, existe um pulo do gato: ter boa relação com o banco. Significa ser um cliente com vida financeira saudável.
— O custo final (do adiantamento), somando juros e eventuais taxas, vai depender do perfil do cliente — confirma o superintendente da Unidade Financeira do Banrisul, Jairo Chagas.
Para economista, é melhor esperar
A economista Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, diz que a publicidade dos bancos aos empréstimos e antecipações chega a ser irresponsável. Ela concorda que, para pagar uma dívida como a do cartão, que chega a 471,3% ao ano, pode valer a pena. Mesmo assim, questiona:
— Por que aceitar pagar juros e taxas sobre um dinheiro que já é seu? As pessoas não podem se encantar com isso. Ainda é melhor esperar.
Um contra, outro a favor
Quem quiser espantar a artista visual Rosana dos Santos Nunes, 50 anos, pode usar a tática de oferecer a antecipação do 13° ou da restituição do IR. Ela garante que, dessas operações, só quer distância.
— Tenho pavor de pagar juros e taxas! Nunca me pegaram com isso. Já me ofereceram, mandaram e-mail. Mas não aceito — garante ela, que é moradora de Pelotas.
Leia mais
Primeira parcela do 13º salário dos aposentados será paga em agosto
Giane Guerra: saiba como a mesada pode ajudar na educação financeira das crianças
Leia mais
Primeira parcela do 13º salário dos aposentados será paga em agosto
Giane Guerra: saiba como a mesada pode ajudar na educação financeira das crianças
Rosana desconfia de tudo que é oferecido como uma grande vantagem. Já absorveu o hábito de, a cada oferta de serviço ou de crédito, perguntar quase sem deixar o interlocutor terminar: quais são a anuidade e o juro?
Segundo ela, é assim que mantém uma vida financeira controlada, guardando dinheiro e ficando com todo o 13º no final do ano, assim como uma eventual restituição.
— Eu gosto de ir juntando, sabe?
O bancário Paulo Armentano, 58 anos, já perdeu a conta de quantas vezes optou por receber antecipadamente o 13º salário. Nunca se arrependeu e não descarta repetir.
— Eu estava passando por emergências financeiras, usando R$ 2 mil ou R$ 3 mil do limite. Usei e não me arrependi — diz.
Claro que, pondera Paulo, o ideal é não precisar. Ele se apressa em dizer que jamais pregaria o desregramento financeiro para ninguém. Mas afirma que não vê a antecipação como um monstro de sete cabeças. Ele diz saber o momento certo de usar.
— Qual é o momento certo? É o momento em que se está precisando! Você vai resolver um problema que tem. Então, essa é a hora de usar — aconselha ele, que afirma não se incomodar com as taxas de juros.
Diário Gaúcho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário