Guerra do tráfico
Policial civil deve ser indiciado por posse de armas proibidas
Investigação apura relacionamento de assessor de ex-secretário da Segurança com traficante morto em Tramandaí
por Humberto Trezzi
O policial civil Nilson Aneli deve ser indiciado nas investigações que apuram seu relacionamento com o traficante Alexandre Goulart Madeira, o Xandi. O criminoso foi morto com um tiro de fuzil por uma quadrilha rival dia 4, em Tramandaí.
Depoimentos de comparsas de Xandi indicam que ele estava acompanhado do comissário Aneli, da Polícia Civil, quando foi assassinado. O delegado da 1ª DP de Tramandaí, Paulo Perez, ainda não decidiu em que Aneli será incriminado, mas está praticamente certo o indiciamento do policial por posse ou porte de armamento de uso restrito ou proibido, punido pela Lei de Armas (Lei 10.826/03). A pena pode variar de três a seis anos de reclusão, além de multa.
O indiciamento será embasado no testemunho de três homens que foram presos na casa alugada por Xandi após o tiroteio que o matou e que trabalhavam na produtora de funk do traficante, a Nível A (especializada em bailes e lançamento de artistas do gênero). Eles foram ouvidos duas vezes: primeiro, por policiais civis de Tramandaí, depois por agentes da Corregedoria da Polícia Civil. Ao testemunhar, o trio confirmou que Aneli era o segurança de Xandi. Não apenas para dar proteção nas festas organizadas pelo grupo, mas também da defesa pessoal do traficante e de sua mulher. Isso estaria acontecendo há mais de ano.
Os três presos ainda acrescentaram que parte das armas apreendidas com o grupo, na casa de Xandi, pertencia a Aneli. E que o policial teria se abrigado durante o tiroteio atrás de uma mesa, com uma arma na mão, se protegendo contra os assassinos que disparavam contra o traficante.
Foram presos na residência de Tramandaí sete homens e uma mulher — incluindo os três que confirmam a relação de Aneli e Xandi. As oito prisões preventivas foram decretadas porque a Polícia Civil encontrou drogas, cinco pistolas e farta munição com o grupo. Foram apreendidas na casa três pistolas Glock 9 mm contrabandeadas e duas pistolas Taurus .380, uma delas com numeração raspada e outra de origem desconhecida.
No caso das armas contrabandeadas, o comissário Aneli seria indiciado por posse de arma de uso restrito (o calibre 9 mm é restrito a alguns policiais e militares) fora de serviço. No caso da arma raspada, ela é considerada de uso proibido, por ser crime adulterar os sinais do armamento.
Ainda não está decidido se o policial será indiciado por associação para o tráfico, por estar na presença de traficantes — algo que, aliás, ele nega. Para isso, seriam necessários indícios de que ele trabalha no tráfico, o que até agora não ficou comprovado.
Aneli nega envolvimento com Xandi, com tráfico ou com as armas apreendidas. Ouvido por ZH, ele disse que foi até a casa logo após o tiroteio, socorrer um sobrinho que foi baleado no episódio. À Corregedoria, o policial admitiu ter trabalhado para a produtora Nível A, mas não para Xandi. Ele acreditava se tratarem de empresários do setor musical.
Com 33 anos de carreira e professor na Academia da Polícia Civil, Aneli era lotado, até o início do ano, no gabinete do então secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Airton Michels.
Xandi, ligado à facção criminosa Os Manos, era considerado um dos "patrões" do tráfico na Região Metropolitana. Controlava o Condomínio Residencial Princesa Isabel, distante duas quadras do Palácio da Polícia Civil, na Capital, e também bocas-de-fumo em Canoas. Ele teria sido jurado de morte por traficantes rivais da Vila Tamanca e do Beco dos Cafunchos, no bairro Agronomia, na zona leste da Capital.
Eles teriam oferecido inclusive R$ 200 mil para quem o matasse. O assassinato aconteceu quando quatro homens, num Corsa, estacionaram em frente à casa alugada pelo criminoso em Tramandaí e dispararam rajadas de fuzil, acertando Xandi na cabeça. Ele morreu na hora.
As investigações sobre a morte de Xandi avançam lentamente. Não foram localizadas imagens do tiroteio ou mesmo dos bandidos em fuga. As câmeras da região estavam desativadas, diz o delegado Perez. Ele não descarta a hipótese de que alguém da mesma facção de Xandi tenha facilitado o assassinato.
*Zero Hora
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