Festa polêmica divide opiniões em Santa Maria
Evento em casa noturna está marcado para essa terça-feira, dia que marca os dois anos do incêndio da boate Kiss
Juliana Bublitz, de Santa Maria
Mais de 200 pessoas confirmaram presença na festa marcada para a noite dessa terça-feira, no Muzeo Pub, em Santa Maria, quando a tragédia da boate Kiss completa dois anos. Organizado com o apoio de familiares de vítimas do incêndio, o evento é motivo de polêmica na cidade desde que foi anunciado, no início do mês.
Na época, o dono do estabelecimento, Marcelo Guidolin, 35 anos, entrou em contato com a estudante Jéssica Rosado, 26 anos, para conversar. Irmã de Vinícius Rosado, morto no incêndio, Jéssica sobreviveu ao fogo e é uma das integrantes da associação Ah Muleke, criada em setembro de 2013 por parentes de quatro vítimas.
— Ele me perguntou se eu achava que a Muzeo deveria fechar em respeito aos mortos. Eu disse que não e que, se eles fizessem uma festa diferente, envolvendo conscientização, a gente apoiaria. Foi o que aconteceu — relata a sobrevivente.
A ideia, segundo Guidolin, “nunca foi fazer uma homenagem às 242 vítimas”. Ele afirma ter sido mal interpretado.
— Estão distorcendo tudo. O nosso objetivo é conscientizar os jovens para que façam a sua parte e só frequentem locais dentro da lei, sem correr riscos — diz o empresário.
O debate foi parar nas redes sociais e nas ruas do município. Os apoiadores entendem que não há nada de errado com a iniciativa e exaltam a decisão do proprietário de doar 50% do valor arrecadado para duas entidades sociais do município.
Quem critica, levanta uma série de dúvidas. Flávio José da Silva, do Movimento Santa Maria do Luto à Luta, afirma que a Muzeo foi uma das primeiras danceterias a fechar as portas após a catástrofe e a arrancar a espuma que cobria as paredes internas para evitar problemas com a polícia — no caso da Kiss, foi a queima do revestimento que liberou o cianeto, responsável pela maioria das mortes.
Silva também questiona o apoio de Ogier Rosado à festa. Pai de Jéssica e integrante da associação Ah Muleke, Rosado tem um cargo de confiança na prefeitura, órgão que, na opinião de Silva, deveria ser responsabilizado pelo que ocorreu.
— Tudo isso é muito complicado. Além do mais, acho a iniciativa de mau gosto — sintetiza Silva.
Guidolin rebate as críticas. Reconhece ter retirado a espuma da danceteria, mas garante que o material “era adequado e de boa qualidade”. Diz que só arrancou o produto para evitar que os frequentadores sentissem medo.
— A Muzeo é totalmente segura. É um modelo. Está dentro das normas, tem PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio) em dia e tudo o que é exigido por lei. Respeito quem nos critica. Só acho que deveriam nos respeitar também. Queremos que a cidade volte a sorrir, apenas isso — ressalta Guidolin.
Magoado, Rosado também responde aos questionamentos com indignação.
— Acham que meu cargo é mais importante do que a morte do meu filho. Perdi o Vinícius e quase perdi a Jéssica. Quero justiça como qualquer outro pai — desabafa.
Apesar de toda a controvérsia, os organizadores garantem que a festa vai sair. Conforme Jéssica, praticamente todos os 250 ingressos antecipados já foram vendidos. Outros 54 estarão disponíveis na hora. Será respeitada a lotação máxima permitida, de 304 pessoas.
*Zero Hora
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