Diplomacia
França alerta: se não recuar, Rússia pode enfrentar sanções da UE
Segundo ministro francês, sanções estarão na pauta da reunião de quinta-feira. Senado russo estuda lei para reagir contra países que adotarem a medida
Soldado da força aérea ucraniana descansa sobre sacos de areia na base militar de Belbelk, na Ucrânia - Viktor Drachev/AFP
O ministro francês das Relações Exteriores fez um alerta nesta quarta-feira ao presidente russo Vladimir Putin: a União Europeia não descarta impor sanções contra a Rússia caso o país não recue na sua pretensão de invadir a Crimeia, no Sul da Ucrânia. Segundo Laurent Fabius, o tema será discutido nesta quinta-feira, durante reunião dos líderes do bloco europeu.
“A invasão de um país por outro contraria todas as leis internacionais. Devemos retomar o diálogo e ter em mente que a Ucrânia poderia trabalhar em conjunto com a Rússia e com a UE”, afirmou Fabius em sua conta no Twitter. “Não podemos aceitar, nós os membros da comunidade internacional, um país que invada outro”, completou.
Caio Blinder:
Diante das evidências de que Putin não pretende ceder, os Estados Unidos já começaram a adotar medidas diplomáticas para pressionar Moscou: anunciaram a suspensão de toda a cooperação militar com a Rússia, incluindo encontros bilaterais e manobras militares conjuntas, e a suspensão das negociações de um tratado comercial.
O próximo passo caso o Kremlin não reverta seu curso é, segundo diplomatas americanos, cancelar a emissão de vistos e congelar os ativos financeiros nos EUA dos oficiais russos no comando da operação na Crimeia, bem como os de instituições financeiras controladas pelo Estado russo. A estratégia da Casa Branca é tentar, aos poucos, impactar a Rússia no bolso, freando as relações comerciais e financeiras de Moscou com o Ocidente.
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Até agora, contudo, o país agia sem o apoio europeu: os líderes do bloco haviam indicado que pretendiam adotar medidas bem mais limitadas, como suspender a venda de armas à Rússia e as conversas diplomáticas com Moscou não relacionadas à crise na Ucrânia. Sanções econômicas estavam descartadas até aqui, por uma simples razão: o enorme volume de negócios entre russos e UE. Sem o apoio europeu, as sanções adotadas unilateralmente pelos Estados Unidos podem se revelar inócuas para convencer Vladimir Putin a bater em retirada – os EUA não figuram sequer entre os 10 maiores parceiros comerciais da Rússia; o total de exportações e importações entre os dois países está na casa dos 40 bilhões de dólares por ano. Enquanto isso, os negócios russos com a União Europeia somam por volta de 340 bilhões de dólares no mesmo período.
Resposta russa – O Senado russo informou nesta quarta que elabora um projeto de lei para confiscar ativos estrangeiros em resposta a possíveis sanções contra Moscou por causa da intervenção militar russa na Crimeia. "A minuta de lei contempla conceder estas faculdades ao presidente e ao governo para proteger nossa soberania", disse à agência oficial RIA Novosti o chefe do Comitê de Legislação Constitucional do Senado, Andrei Klishas, autor da iniciativa.
"Não duvidamos que isso corresponda aos padrões europeus. Basta lembrar o exemplo do Chipre, quando a desapropriação foi de fato uma das condições exigidas pela União Europeia para que o país recebesse a ajuda", comentou. Além disso, acrescentou que caso sua iniciativa prospere, ela estará limitada por uma lei federal. "Toda sanção terá sua resposta", resumiu Klishas.
Diplomacia – Nesta quarta, o secretário de Estado americano John Kerry tem uma reunião com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov. As conversas entre os representantes de Washington e do Kremlin são consideradas cruciais para por fim à crise. Os Estados Unidos acusam a Rússia de cometer um “ato de agressão contra a Ucrânia”, o que Moscou nega. Apesar das diferenças, os dois lados têm sugerido que preferiam iniciar um diálogo.
Cronologia dos protestos na Ucrânia
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O presidente ucraniano, Viktor Yanukovich (esq), ao lado do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz
A recusa ucraniana - 29 de novembro
A União Europeia (UE) não conseguiu convencer a Ucrânia a assinar um acordo selando sua aproximação com o Ocidente, em função da pressão de Moscou, o que constitui uma derrota para os europeus. No final da terceira cúpula da Parceria Oriental entre a UE e seis ex-repúblicas soviéticas - Ucrânia, Geórgia, Moldávia, Bielo-Rússia, Armênia e Azerbaijão - os resultados foram aquém do esperado. Somente Moldávia e Geórgia assinaram o acordo. O presidente ucraniano Viktor Yanukovich explicou que, antes de firmar um acordo, Kiev necessita "de um programa de ajuda financeira e econômica" da UE. "Não se pode, tal e como quer o presidente ucraniano, pedir que paguemos para que a Ucrânia entre nesta associação", retrucou François Hollande, presidente da França. Saiba mais sobre por que UE e Rússia querem tanto a Ucrânia.
História: Ucrânia, um país com um histórico de tragédias - VEJA
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