Dirceu dizer que é preso político 'não cola', diz Roberto Jefferson
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BERNARDO MELLO FRANCO
Recluso há uma semana em sua casa no interior fluminense, onde espera a ordem
de prisão do Supremo Tribunal Federal, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ)
decidiu voltar ao ataque.
Em entrevista à Folha por telefone, ontem, ele criticou o desafeto
José Dirceu e classificou como "absurda" a postura do ex-ministro de se
apresentar como preso político.
Presidente
do PTB diz que relação com PT não sai abalada do mensalão
Roberto Jefferson reafirma não se arrepender de ter delatado o mensalão
Roberto Jefferson reafirma não se arrepender de ter delatado o mensalão
"É a mesma coisa que ele dizer que foi cassado por um Congresso de exceção.
Não tem cabimento", afirmou o autor da denúncia do mensalão, em 2005.
Jefferson disse que o Brasil é uma democracia e que 8 dos 11 ministros do STF
foram nomeados por governos do PT. Acrescentou que a corte respeitou o direito
de defesa dos réus e transmitiu o julgamento ao vivo, pela televisão.
O petebista sugeriu que corre risco de vida se for preso no complexo da
Papuda, em Brasília. Disse que sua relação com os réus petistas, como Dirceu, é
"complicada". E que o presídio abriga homens condenados pelo assassinato de um
juiz, em julgamento do qual ele participou como assistente de acusação.
Oito anos depois, Jefferson disse não se arrepender de ter denunciado o
mensalão --o que lhe custou o mandato e, agora, a liberdade. Ele foi cassado na
Câmara e condenado a sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. Ele nega os crimes.
Roberto Jefferson
Daniel Marenco - 20.nov.13/Folhapress
Roberto Jefferson em sua casa na cidade de Conselheiro Levy
Gasparian (RJ)
*
DIRCEU E PRISÃO POLÍTICA
Isso é um absurdo. Não emplaca, não cola. Nós vivemos uma democracia plena no
Brasil. Os três poderes trabalham com total liberdade. O julgamento foi feito às
claras, transmitido pela TV. Que preso político é esse? [referindo-se a José
Dirceu]. É a mesma coisa que ele dizer que foi cassado por um Congresso de
exceção. Não tem cabimento. Se eu disser isso, você vai rir de mim.
Só os três reclamam, o Dirceu, o [José] Genoino e o Delúbio [Soares]? E os
outros que não reclamam? Eu não vejo o Romeu Queiroz ou a Kátia Rabello
reclamando. Eu respeito e entendo o sofrimento deles, mas é o "jus esperneandi".
Eu não vou fazer isso.
O Supremo [Tribunal Federal] tem só três ministros que não foram feitos pelo
governo do PT. Os outros oito foram nomeados pelos governos Lula e Dilma. Não
estamos na Venezuela do Maduro, no Equador, em Cuba.
SEM ARREPENDIMENTOS
Faria tudo de novo, sem arrependimentos. Acho que valeu. Foi uma denúncia de
peito aberto, na luta política. Respondi a uma armação indigna que a Casa Civil
montou contra mim, naquele caso do Maurício Marinho [ex-funcionário dos Correios
que foi acusado de receber propina com aval do PTB].
Eu avisei a eles: ou vocês arrumam isso, ou vai ter troco. Eu não saio pela
porta dos fundos. Saio pela porta da frente. Eu luto como um urso. De pé e de
peito aberto.
DESAFETOS NA CADEIRA
Se eu for para a Papuda, vai ser uma situação muito ruim, muito delicada. Tem
muita gente inamistosa, com quem eu tenho uma relação complicada. O Zé Dirceu, o
Genoino, o Delúbio.
Também pode ter desentendimentos com o Valdemar [Costa Neto], o Pedro Henry.
Minha relação pessoal com eles é horrível. Como é que vai ser? É muito difícil.
Fui assistente de acusação no caso do assassinato do desembargador Irajá
Pimentel [morto a tiros em 2002, em Brasília]. Condenei oito caras por
homicídio. Estão todos lá na Papuda. O ambiente é muito hostil para mim."
SAÚDE E PRISÃO DOMICILIAR
Estou bem de saúde. O câncer está curado. O inconveniente é o metabolismo.
Tenho que seguir uma dieta balanceada e tomar um monte de injeção, o que eu não
desejo para nenhum inimigo. Fizeram uma limpeza em mim [na cirurgia]. Não tenho
mais duodeno. Perdi quatro quintos do estômago, fígado, um pedaço do pâncreas,
um metro e meio de intestino.
O câncer eu tenho a impressão de que não vou ter mais, graças a Deus. Foram
seis meses de quimioterapia. Mas tenho desabsorção [de vitaminas], diabetes e
anemia. Fiquei igual a um sabiá gigante [risos]. É o papai que diz isso: um
sabiá gigante! Preciso ir ao banheiro oito, dez vezes por dia.
Meu advogado está fazendo um esforço monstruoso pela prisão domiciliar. Não
posso comentar, mas torço. A ginástica é recomendação médica. Se puder escolher,
prefiro ficar em Levy Gasparian [cidade no interior do Rio, onde espera a
prisão]. É mais tranquilo, tenho espaço para caminhar. Aqui eu fico melhor.
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