sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Oito mitos desvendados sobre o cérebro


Dois neurocientistas americanos resolveram pesquisar as principais lendas sobre o cérebro e refutá-las

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No filme Lucy (2014), o renomado neurologista interpretado pelo ator Morgan Freeman discursa para um público grande em um auditório: “A estimativa é que nós humanos usamos apenas 10% da capacidade do nosso cérebro. Imaginem se tivéssemos acesso a 100%”. Você já deve ter ouvido ou lido isso antes, né? O problema é que isso é mentira.

Revoltados com a desinformação promovida pelo filme, os neurocientistas Jason Chan e Ramina Adam decidiram pesquisar os maiores mitos sobre o cérebro e espalhar as informações corretas sobre eles. Confira abaixo o resultado do estudo dos dois:

1. Usamos apenas uma fração do cérebro

Em 1907, o famoso psicólogo William James disse em uma entrevista: “Estamos fazendo o uso de apenas uma parte dos nossos recursos físicos e psicológicos”. Um jornalista reproduziu a informação errada e escreveu que James falou que usamos apenas 10% do cérebro. Porém, exames comprovam que usamos todas as regiões do cérebro, obviamente, não ao mesmo tempo.

2. Tocar música clássica para crianças aguçará a inteligência delas

Em 1998, o governo do Estado americano de Georgia começou a distribuir CDs com música clássica e uma mensagem do governador: “Esperamos que o seu bebê desenvolva a inteligência desde cedo”. Por mais curioso que possa parecer, o conhecido Efeito Mozart é duvidoso. Em 1999, a Universidade Harvard dedicou nada menos que dezesseis estudos sobre o assunto e nenhum deles concluiu que ouvir música clássica na infância forma um adulto mais inteligente.

3. Adultos não desenvolvem novas células cerebrais

Na fase adulta, ratos, coelhos e até pássaros desenvolvem novos neurônios, mas humanos, não. Esta foi a opinião da comunidade científica por mais de 130 anos.Somente em 2014, um grupo de uma universidade sueca identificou que novas células se desenvolviam no cérebro dos adultos, na região do hipocampo, que, entre outras funções, armazena memórias.

4. Cérebros de homens têm melhor desempenho em matemática e ciência

Existem apenas algumas pequenas diferenças anatômicas entre os cérebros femininos e masculinos. O hipocampo é ligeiramente maior no cérebro das mulheres, enquanto a theamídala, que trabalha as emoções, é maior nos homens. Isso, por si só, já desmancha o mito de que mulheres são naturalmente emotivas. Em 1999, a Universidade de Waterloo promoveu um dificílimo teste de cálculos com matemáticos de ambos os sexos. Nenhum se sobressaiu em relação ao outro.

5. Estar em coma é como estar dormindo

Nos filmes e seriados, o coma não parece uma coisa muito grave. Depois de meses desacordado, o personagem já acorda falando e se movimentando como se nada tivesse acontecido. Na vida real, não é bem assim. Muitas vezes, são necessários meses de reabilitação física e psicológicas para quem perdeu os sentidos por algum tempo. Para desbancar ainda mais este mito, um estudo feito em 2012 pelo Centro Nacional Francês de Pesquisas Científicas apontou diferenças entre as áreas do cérebro que ficam ativas durante o sono e durante o coma.

6. Fazer palavras cruzadas melhora a memória

Se você sempre faz as palavras cruzadas dos jornais, a ciência tem uma boa notícia para você: fazer palavras cruzadas melhora suas habilidades em, bem, fazer palavras cruzadas. Um estudo do Colégio de Medicina Albert Einstein concluiu que não havia diferenças na memória a curto prazo de pessoas que tinham ou não o hábito de fazer palavras cruzadas e e estavam na casa dos 80 anos.

7. O álcool mata células cerebrais

Aquela sensação esquisita depois de três ou quatro taças de vinho não significa que suas células cerebrais estão morrendo. Um estudo do Instituto Bartholin da Dinamarca comparou os cérebros de pessoas alcoólicas e não alcoólicas, concluindo que não havia diferença cerebral entre elas. Contudo, os pesquisadores ressaltaram que altas doses de álcool com frequência podem prejudicar a comunicação entre os neurônios.

8. Algumas pessoas tem um lado do cérebro mais desenvolvido que o outro

Nos anos 1960, o neuropsicólogo Roger Sperry dividiu o cérebro em duas metades: o lado esquerdo seria o responsável pelo pensamento lógico e o lado direito pelo pensamento criativo. O sistema ainda é aceito pela comunidade científica, mas não há nenhuma indicação de que pessoas mais criativas não sejam capacidades de pensar de maneira lógica e vice-versa. Outros estudos até refutam a tese de Sperry e concluem que não há distinção entre um lado e outro do cérebro.

*Com supervisão de Cláudia Fusco

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